Drama da cana rende prêmio a tamboarense

Mariane entre o presidente Lula e sua professora de Português Vanicléia.

Foto de Júlio Cesar Paes de Oliveira/Ministério da Educação

História de Mariane, de Tamboara, emociona ministro. Entre 6 milhões de inscritos, duas estudantes do Paraná foram premiadas na Olimpíada de Português. Exemplo para a região e para o Paraná.

Um drama familiar sobre o desemprego causado pela mecanização das lavouras de cana-de-açúcar no Noroeste do Paraná comoveu o ministro da Educação, Fernando Haddad, e colocou a estudante Mariane Cheli de Oliveira entre os vencedores da primeira Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa. Ela e a colega Sheron Ribeiro, de Campo Largo, foram as duas únicas paranaenses entre os 15 premiados pelo programa, que teve a participação de 6 milhões de alunos de escolas públicas e abrangeu 98% dos municípios brasileiros.
Mariane tem 17 anos e está no terceiro ano do ensino médio do Colégio Estadual Duílio Beltrão, em Tamboara. Ela escreveu um artigo de opinião inspirado no pai, o cortador de cana Sebastião Ferreira de Oliveira, 41 anos. O texto comparou os equipamentos de proteção usados por ele a armaduras medievais e mostrou os cortadores como “cavaleiros da cana”.

O lugar onde vivo é uma típica cidadezinha do interior do Paraná com uma população de apenas 4.257 habitantes. O formato do município de Tamboara é no mínimo curioso, quase um quadrado perfeito emoldurando uma cidade em miniatura com virtudes e problemas característicos de uma cidade pequena.
A estudante criticou o uso de máquinas em substituição ao trabalho das pessoas na lavoura. “Venho de uma cidade pequena, de 4 mil habitantes, que vai acabar se isso continuar acontecendo”, disse ontem. Ela novamente citou o pai para dimensionar o drama – Sebastião não pôde comparecer à premiação porque cumpre aviso-prévio em uma indústria de cana da região e não tem como abrir mão de dois dias de salário.
A história de Mariane foi citada como modelo de superação por Haddad, em um discurso emocionado. “É um exemplo de quem não desiste nunca. Temos talentos em todos os lados, não só entre as classes mais favorecidas”, disse o ministro, antes de a garota saber que estava entre os vencedores.
Não foram apenas as dificuldades sofridas por Sebastião que sensibilizaram Haddad. A adolescente trabalha nove horas por dia em uma fábrica de jeans para ajudar a família – além dos pais, ela mora com uma irmã mais nova. “Estudo à noite e trabalho de dia. Isso quando não tenho que ficar no segundo turno”, contou.
Mariane foi a Brasília acompanhada da mãe e da professora de português, Vanicléia de Oliveira Souza Ribeiro, que havia relatado ao ministro as dificuldades sofridas pela aluna. Vanicléia ficou ainda mais emocionada com a conquista porque o pai dela também é cortador de cana.
O tema geral do programa era “O lugar onde vivo” e a redação de Mariane ficou entre os cinco melhores da categoria opinão. A outra paranaense ganhadora, Sheron, também recorreu a uma história familiar para escrever e vencer na categoria memória. Ela usou relatos dos avós para contar como era a rotina de Campo Largo há duas décadas.
“Eu me inspirei nos pequenos casos que eles sempre me contaram”, disse a menina, de 13 anos. Sheron é aluna da sétima série do Colégio Estadual Sagrada Família. Ela e Mariane receberam medalhas de ouro das mãos do presidente Lula, um computador, uma impressora e um aparelho de som.
Além disso, as escolas das duas estudantes receberão dez computadores e uma impressora, além de uma coleção de livros. A Olimpíada é uma iniciativa do Ministério da Educação e da Fundação Itaú Social. O programa teve quatro etapas seletivas ao longo do ano e avaliou textos em três categorias (poesia, opinião e memória) de alunos de quarta a oitava série do ensino fundamental, além da segunda e terceira séries do ensino médio.